O trabalho de um arqueólogo é apenas uma parte de um longo
processo, que não se esgota na investigação em gabinete e no campo, na recuperação,
inventariação e estudo de artefactos. Há que também dar a conhecer esses
objetos ao público, para que este valorize e entenda o seu passado, através de
exposições e outras atividades.
Um dia normal no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa
(Portugal), inclui atividades como: inventariação de peças que compõem o seu
acervo; apoio a investigadores externos que, no âmbito de projetos
universitários, estudam espólio em depósito no museu seja facultando dados dos
sítios arqueológicos como disponibilizando o acesso a uma biblioteca
especializada; visitas e diversas outras ações promovidas pelo serviço
educativo por forma a sensibilizar sobretudo o público escolar; conservação e
restauro de artefactos arqueológicos da sua coleção ou de outras instituições.
No entanto, há projetos que são desenvolvidos em parceria
com instituições com o mesmo intuito – promover a educação do passado
arqueológico – sendo que, grande parte destes projetos passa pela criação e
apoio a exposições. Hoje em dia, para além da conceção da exposição há que
garantir um plano de atividades associado para conquistar o grande público,
onde se inclui um projeto europeu desenvolvido neste Museu com o objetivo de
proporcionar aos visitantes uma mudança de perspetiva face aos objetos
museológicos e aos museus: Projeto Eurovision: Museums Exhibiting Europe. Esta
estratégia aproveita várias efemérides (como esta) para se trabalhar nessa
sensibilização e reforçar a identidade
das pessoas com o seu património.
Este ano, à entrada do Museu Nacional de Arqueologia,
encontra-se uma exposição de rua
itinerante sobre as estelas com escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro. Esta está
concebida para mostrar como este fenómeno resulta de um processo histórico e
patrimonial e interagir com o espaço público. Após mais de dois séculos de
investigação sobre o tema, a exposição apresenta conteúdos escritos devidamente
ilustrados e está organizada para dar a conhecer este período, a escrita do
Sudoeste, onde habitavam e como viviam e morriam essas comunidades, os
investigadores, os conjuntos de estelas conhecidos. Teve-se o cuidado de
produzir um discurso contemporâneo e criativo para fazer a mensagem chegar a
mais do que um tipo de visitante, sendo transversal nas faixas etárias, no
nível de conhecimento e nos graus de interesse. Assegurou-se ainda que a
exposição não tem constrangimentos de acessos e horário, proporcionando ao
visitante uma curta duração no tempo de visita. Refira-se ainda que esta é
bilingue (português e inglês), permitindo uma compreensão dos conteúdos por
visitantes além-fronteiras.
Aqui há ainda lugar para admirar
uma abordagem contemporânea do tema pelos artistas plásticos El Menau e Ângela
Menezes através da apresentação de uma
pintura mural sobre o tema e de uma instalação contemporânea no espaço contíguo
à exposição.
Esta mostra resulta de uma colaboração da Câmara Municipal de Loulé com
o Projeto ESTELA. Este projeto tem a preocupação de transformar o conhecimento
científico adquirido no reforço da identidade das pessoas com o seu património
e de criar com esta informação uma paisagem cultural. Nascido em 2008, tem por
primeiro objetivo a sistematização da informação das estelas com escrita do
Sudoeste, através da caracterização dos contextos, da cultura material e do
território dos sítios arqueológicos da serra do Algarve e do Alentejo,
contribuindo para a revisão e produção de conhecimento sobre a sociedade que aí
habitou, nos meados do 1º milénio a.C..
No dia 24 de julho, com base
nesta exposição, o Museu Nacional de Arqueologia, o Projeto ESTELA e o Projeto
Eurovision: Museums Exhibiting Europe vão desenvolver diversas atividades, como
visitas guiadas, ateliers e oficinas pedagógicas, assim como a apresentação de
soluções digitais para, de forma mais interativa, dar a conhecer um dos maiores mistérios e tesouros da
arqueologia europeia – a escrita do Sudoeste, a primeira manifestação, bem
caracterizada, de escrita da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa
e que está, ainda hoje, por decifrar.
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