15/10/2013

Peça do mês de Outubro

O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objectos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e coleccionadores.

Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.

O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como “tesouros nacionais”.

Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa, e renovadamente no ano de 2013, em que o MNA celebra o seu 120º aniversário de fundação.

A Peça do Mês de Outubro
Apresentação por João Almeida e Julião Sarmento, em 19 de Outubro de 2013 às 15h
CABEÇA DE ALFINETE COM REPRESENTAÇÃO FEMININA (Nº 2011.61.1)

TRÓIA – GRÂNDOLA, SETÚBAL.

Entre as décadas de 40 e 60 do séc. XX foi escavada em Tróia uma importante necrópole romana cuja cronologia de utilização compreende grosso modo, os séculos I e VI d.C.
Durante estes trabalhos arqueológicos, sob a direcção do antigo Director do MNA, Manuel Heleno Júnior, foi descoberta junto de uma destas estruturas funerárias uma pequena figura feminina de osso que conserva ainda o torso e parte dos membros inferiores. Esta pequena peça deverá ter sido o motivo central de um alfinete de cabelo embora não seja de descartar a hipótese de se tratar de um elemento decorativo de um instrumento de fiação, como aliás se conhece outro exemplar de Tróia. A relação com outros materiais perfeitamente datáveis, a presença de vestígios de cinzas no local descrito e a sua representação indicam uma datação em torno do séc. I d.C. Os traços desta pequena escultura, talhada com grande precisão e realismo, aproximam-na das representações coevas de Vénus, cópias dos modelos da Afrodite grega muito populares na época.






Outros enterramentos em Tróia sugerem uma relação entre o género feminino sepultado e alguns objectos relacionados com esta divindade, cujo simbolismo extravasa largamente os conceitos associados de beleza e erotismo.

Esta peça, que se encontrava “adormecida” nas reservas do MNA até há poucos anos, foi “acordada” pela investigação arqueológica de João Almeida.
No ano em que se assinalam os 40 anos de carreira de Julião Sarmento - um dos nossos artistas plásticos com maior projecção internacional e cuja obra mergulha frequentemente no universo feminino - propõe-se um diálogo entre a perspectiva que um arqueólogo e um artista têm perante o mesmo objecto.
Poderemos falar em arte e beleza universal? Terá esta magnifica figura tido há dois mil anos o mesmo impacto visual que tem nos dias de hoje?

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