24/06/2014

Peça do mês de Julho

O Museu Nacional de Arqueologia /MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objectos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e coleccionadores.
Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.
O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como "tesouros nacionais".
Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.


PEÇA DO MÊS COMENTADA
Inscrição em honra do imperador Augusto Nº E 6329

A apresentar por José d'Encarnação, em 5 de Julho de 2014, às 15h




Bloco paralelipipédico, de granito moscovítico, com inscrição em honra do imperador Augusto. Foi descoberto por Borges de Figueiredo na Academia de Belas Artes de Lisboa; publicou-o na sua Revista Archeologica e Historica (II 1888 p. 69), com a indicação de que, «pelas informações que pude obter», fora encontrada em Alcácer do Sal. Serviu, seguramente, de lintel na entrada de um templo dedicado ao culto imperial.
A epígrafe reza o seguinte:

IMP(eratori) . CAESARI . DIVI . F(ilio) . AVGVSTO
PONTIFICI . MAXVMO . CO(n)S(uli) . XII
TRIB(unicia) . POTESTADE . XVIIII
VICANVS . BOVTI. F(ilius)
SACRVM
Ao imperador César Augusto, filho do Divino, pontífice máximo, cônsul pela 12ª vez, no 19º poder tribunício - Vicano, filho de Búcio. Consagrado.

Datada do período entre 1 de Julho do ano 5 e 30 de Junho do ano 4 a. C., a epígrafe revela como a figura do imperador foi, desde cedo, acolhida em Salacia envolta em religiosidade: seu pai, César, fora divinizado; como sumo pontífice, ele era o interlucotor privilegiado entre os deuses e o seu povo; e detinha a potestade, o poder nimbado de uma aura mística,,,
E toda essa atmosfera culmina na escolha, como remate, de um vocábulo impregnado de religiosidade: consagrado.
Por outro lado, o facto de o dedicante - porventura o notável indígena de quem partiu a iniciativa da construção - singelamente se identificar através de nomes comuns mais acentua essa fácil penetração da ideologia oficial.
No ano em que se comemora o bimilenário da morte do imperador, oportunamente se realça o valor documental desta epígrafe, nesse âmbito a mais significativa da Lusitânia romana.
José d'Encarnação

Museu Nacional de Arqueologia - Religiões da Lusitânia. Entrada Livre

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