Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.
O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como “tesouros nacionais”.
Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.
A PEÇA DO MÊS COMENTADA
Pátera da Lameira Larga nº inv. AU 690
A apresentar por Carlos Fabião 1, em 17 de Maio de 20174, às 15h
Pátera de prata, com aplicações a ouro, de decoração figurativa repuxada, procedente da sepultura romana da Lameira Larga (Penamacor).
A pátera pertence a um conjunto sepulcral datado dos fins do séc. I ou inícios do II d.C. encontrado ocasionalmente em 1907, no lugar de Lameira Larga, Aldeia do Bispo, Penamacor.
A imagem apresenta o grande feito do herói grego Perseu: “o mais valente dos homens” (Ilíada, Canto XIV, 320). O herói decapitou, com a sua espada de bronze (harpé), a terrível Medusa, a única das três Gorgonas que era mortal. Nos pés apresenta as sandálias aladas, que lhe permitiram voar sobre o Oceano ao encontro da caverna das Gorgonas. Acompanha-o (e guia-o) Hermes, que ergue o manto que o tornava invisível e lhe permitiria fugir da fúria das imortais irmãs de Medusa. Para evitar o terrível olhar petrificante de Medusa, Perseu socorre-se de um estratagema. Com o auxílio de Atena, que ergue o seu escudo polido, servindo de espelho, Perseu pôde decapitar Medusa sem a encarar.
A pátera apresenta alguns dos elementos da narrativa de Perseu, mostrando o momento em que Medusa já está decapitada, mas a sua cabeça não está ainda nas mãos do herói, que estende o braço na sua direcção: ou seja, o acto está em curso, não está ainda concluído. Trata-se, por isso, de uma raríssima representação desta narrativa (à época, era mais popular a imagem de Perseu triunfante, apresentado só, de espada na mão, em pose hierática erguendo a cabeça de Medusa). Neste caso, a representação do acto em curso, com muitos dos seus actores, confere a esta pátera um magnífico poder narrativo.
Em época romana, estas narrativas dos feitos dos heróis gregos serviam de “histórias de proveito e exemplo” na educação dos jovens. Será provavelmente esta a razão que levou um habitante da Lusitânia a adquirir e conservar esta pátera de decoração figurativa, que acabou no interior da sua sepultura.
Esta magnífica obra, realizada há quase dois mil anos, condensando uma narrativa heróica que lhe é pelo menos mil anos anterior, constitui eloquente exemplo de uma das matrizes culturais do Ocidente, e um inestimável tesouro da Arqueologia portuguesa.
1 Centro de Arqueologia (Uniarq) da Universidade de Lisboa. 1600-214 LISBOA.
A pátera pertence a um conjunto sepulcral datado dos fins do séc. I ou inícios do II d.C. encontrado ocasionalmente em 1907, no lugar de Lameira Larga, Aldeia do Bispo, Penamacor.
A imagem apresenta o grande feito do herói grego Perseu: “o mais valente dos homens” (Ilíada, Canto XIV, 320). O herói decapitou, com a sua espada de bronze (harpé), a terrível Medusa, a única das três Gorgonas que era mortal. Nos pés apresenta as sandálias aladas, que lhe permitiram voar sobre o Oceano ao encontro da caverna das Gorgonas. Acompanha-o (e guia-o) Hermes, que ergue o manto que o tornava invisível e lhe permitiria fugir da fúria das imortais irmãs de Medusa. Para evitar o terrível olhar petrificante de Medusa, Perseu socorre-se de um estratagema. Com o auxílio de Atena, que ergue o seu escudo polido, servindo de espelho, Perseu pôde decapitar Medusa sem a encarar.
A pátera apresenta alguns dos elementos da narrativa de Perseu, mostrando o momento em que Medusa já está decapitada, mas a sua cabeça não está ainda nas mãos do herói, que estende o braço na sua direcção: ou seja, o acto está em curso, não está ainda concluído. Trata-se, por isso, de uma raríssima representação desta narrativa (à época, era mais popular a imagem de Perseu triunfante, apresentado só, de espada na mão, em pose hierática erguendo a cabeça de Medusa). Neste caso, a representação do acto em curso, com muitos dos seus actores, confere a esta pátera um magnífico poder narrativo.
Em época romana, estas narrativas dos feitos dos heróis gregos serviam de “histórias de proveito e exemplo” na educação dos jovens. Será provavelmente esta a razão que levou um habitante da Lusitânia a adquirir e conservar esta pátera de decoração figurativa, que acabou no interior da sua sepultura.
Esta magnífica obra, realizada há quase dois mil anos, condensando uma narrativa heróica que lhe é pelo menos mil anos anterior, constitui eloquente exemplo de uma das matrizes culturais do Ocidente, e um inestimável tesouro da Arqueologia portuguesa.
1 Centro de Arqueologia (Uniarq) da Universidade de Lisboa. 1600-214 LISBOA.
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