O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um
acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objectos. Provêm
eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo
sido incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação
de investigadores e coleccionadores.
Todos os períodos cronológicos e culturais, e
também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas
recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados
no MNA. Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de
períodos e regiões muito diversificadas.
O MNA é ainda o museu português que possui no
seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como “tesouros nacionais”.
Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas
colecções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que
fazemos, em cada mês que passa, e renovadamente no ano de 2013, em que o MNA celebra o seu
120º aniversário de fundação.
A peça do mês
Serpente solarizada, nº inv. E 191
(cat. 73) – Egipto antigo
A apresentar por José Sales , em 23 de
Novembro de 2013 às 15h
As representações serpentiformes e os cultos
ofiolátricos são fenómenos frequentes nas terras onde se desenvolveram as
civilizações do Médio Oriente antigo. Como animal que se esconde na terra e que
muda de pele, é habitual a serpente ser associada nessas civilizações à
actividade agrária, à fertilidade, à regeneração e à imortalidade, assumindo um
lugar de relevo nas suas crenças, mitos, práticas de magia e encantamentos.
No Egipto antigo, onde se distinguiam 37 tipos
de serpentes, a serpente (hefau) não
era mais do que a materialização da incarnação de um poder sobre-humano com
força destruidora, sendo também símbolo de uma ideia de poder, imortal, do mal.
A serpente era, por isso, um signo polivalente que se socorria de uma linguagem
simbólica, mais ou menos complexa, para exprimir as suas várias facetas.
Uma das vertentes mais exploradas no âmbito da
mitologia egípcia explora a sua relação com o Sol, sendo a mordedura do animal
associada à queimadura solar. Resultado de esta associação produzida pela
cosmovisão egípcia, a serpente é um ornamento profiláctico ao serviço dos
deuses, do faraó e das próprias construções arquitectónicas. A serpente é mesmo
o animal mais representado na antiga arte egípcia.
São
numerosos os exemplos de divindades-serpente que se podem encontrar na
mitologia egípcia, zoomorfas ou bimórficas (corpo humano com cabeça animal ou
mesmo corpo animal com cabeça humana): Uadjit, Meretseger, Renenutet,
Hetepes-Sekhus, Upset, Apopis, Neheb-Kau, Agathodaimon, as deusas com cabeça de
serpente da Ogdóade hermopolitana (Nunet, Hehet, Kuket e Amonet), etc.
A
serpente «em posição de alerta» (em egípcio
iaret; em latim uraeus),
excitada, pronta a desferir o seu ataque, com ou sem disco solar, constitui um
motivo iconográfico-artístico com inúmeras utilizações e representações,
praticamente desde o início da história egípcia até ao período romano.
O
Além egípcio, tal como nos é apresentado pelas decorações dos túmulos do Vale
dos Reis, estava repleto de serpentes, algumas gigantescas, com braços, pernas,
cabeças humanas, asas, cuspindo «fogo».
A
uraeus solarizada do MNA, de pescoço
tumefacto, em madeira pintada, com 16 cm de altura por 4,3 cm de largura, datada
dos séculos XI-VIII a.C. (III Período
Intermediário), apresenta as suas cores já muito esbatidas. No entanto, a
simbologia das cores e dos materiais constitui também um elemento de destaque no
âmbito da dimensão simbólica que este animal-signo apresentava no antigo
Egipto. Esta vertente é particularmente importante na joalharia e nos relevos
pintados.
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