08/03/2017

Coleções Etnográficas do MNA




As coleções etnográficas do Museu Nacional de Arqueologia, refletem na sua origem, constituição e organização, a própria história do Museu que no seu conceito fundacional se designou, ainda que por breves anos, por Museu Etnográfico Português, muito embora a componente arqueológica tivesse sido dominante desde o início. E se, no programa inicial de 1893-1894, se haviam consagrado apenas duas secções – a Arqueológica e a Moderna – uma terceira é muito precocemente acrescentada – a de Antropologia Física.

A riqueza e diversidade das Coleções Etnográficas oriundas maioritariamente do território português - continental e insular, mas também das antigas ex-colónias, é bem patente nos sucessivos programas museológicos do Museu de José Leite de Vasconcelos, onde foram ganhando protagonismo crescente e permitiram cumprir o mais elevado e ansiado propósito do Fundador, o da criação de um “Museu do Homem Português”.

A partir deste primeiro mês do ano de 2017, o Museu Nacional de Arqueologia dará conta do seu acervo etnográfico, que embora nem sempre visitável continua a ser objeto de estudo sistemático e aturado, retomando assim o espírito que esteve na sua vocação inicial.

Ana Isabel Santos e Filomena Barata

A notável Mofina Mendes assinada por Rafael Bordalo Pinheiro foi adquirida por José Leite de Vasconcelos em 1913 pela exorbitante quantia de 8.000 réis, tem o Nº de Inventário ETNO 3581 e está disponível on-line no Programa MatrizNet. É a peça do mês de março quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, o início da Primavera e ainda o Dia Internacional da Poesia, aproveitando também o MNA para homenagear desta forma Gil Vicente, um dos nossos maiores poetas.
Trata-se de uma das mais conhecidas personagens de Gil Vicente, do Auto dos Mistérios da Virgem, que segundo Alice Vieira Santos, “Mofina Mendes é a mulher sonhadora, desastrada e até irresponsável, segundo alguns críticos, porque não cuida do rebanho do seu amo. O seu próprio nome, Mofina, pode ser traduzido por infelicidade, má sorte. Sonha alto: Vou-me à feira de Trancoso/(…) E farei dinheiro grosso. O pote de azeite que lhe é dado como salário deverá render tanto que passará de um milhão e meio. E Mofina casará rica e honrada e, acrescente-se, feliz, porque virá ao encontro do desposado bailando e cantando.

Mas quebra-se o pote, desfaz-se o sonho. Aos pastores que a criticam responde com uma interrogação: que todo o humano deleite,/ como o meu pote de azeite, /há-de dar consigo em terra?, incluindo-nos a todos no grupo dos sonhadores, mostrando que todos teremos o nosso “pote de azeite. Algumas interpretações sugerem que seria uma alegoria da instabilidade e incerteza das coisas, surgindo como contraponto à ordem divina onde reina a perfeição”.



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