O
Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na
verdade centenas de milhares, de objectos. Provêm eles de intervenções
arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por
iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e
coleccionadores.
Todos
os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a
mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as
peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas
acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito
diversificadas.
O
MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de
peças classificadas como “tesouros nacionais”.
Existe,
pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de
Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.
PEÇA DO MÊS COMENTADA
A Maquineta "Adoração dos Pastores" - Nº Invº 7 286
Presépio atribuído a Machado de Castro
A apresentar por Alexandre Pais, Elsa Murta e Joana Campelo
20 de Dezembro de 2014, ás 15h
O presépio que integra a colecção
do Museu Nacional de Arqueologia é uma peça fundamental para estabelecer uma
das vias destes móveis após o ocaso do brilhante tempo barroco, em que
pontificou, entre outros, o génio criador de António Ferreira e Joaquim Machado
de Castro. A erudição e lógica das imagens escultóricas que marcam presença no
remanescente dos presépios setecentistas, por vezes herdeiras de sentidos ainda
ligados a tradições medievais, estavam condenadas numa sociedade em convulsão e
que tendia para uma crescente laicização de que a extinção das Ordens
religiosas é uma das consequências mais evidentes. Desaparecida uma das
clientelas essenciais do presépio, móvel litúrgico sazonalmente exposto para
contemplação piedosa e celebração do Nascimento de Jesus, a sua prática
permaneceu na tradição dos costumes populares e nas figuras feitas a partir de
moldes, vendidas em feiras e lojas por todo o país. Algumas olarias começaram a
investir neste tipo de produção, sobressaindo em Lisboa a que se localizava na
Calçada da Bica Pequena, de onde provêem alguns dos elementos presentes no
presépio do Museu de Arqueologia. No entanto, ao contrário do que sucedeu com
grande parte das peças com origem em unidades de produção mais populares,
entretanto perdidas na voragem do tempo, estas encontraram abrigo numa
curiosíssima maquineta em forma de castelo muralhado (provavelmente reutilizada
a partir de outra função), que dota o conjunto de uma inesperada evocação de
casa de bonecas. A estética subjacente ao todo que integra esta invulgar peça
remete para uma obra do último quartel do século XIX. Adaptada a um gosto mais aburguesado
do que aquele que caracterizara a clientela que outrora observara os presépios
do “período de ouro”, demonstrando a persistência de manifestações que
ultrapassam o próprio sentido religioso que se encontra na sua génese e ganham
o carácter de um símbolo, neste caso o da unidade familiar como base da
estrutura social.
Museu Nacional de Arqueologia. Entrada Livre.
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