15/12/2014

Peça do mês de Dezembro

O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objectos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e coleccionadores.

Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.

O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como “tesouros nacionais”.

Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.   

PEÇA DO MÊS COMENTADA

A Maquineta "Adoração dos Pastores" - Nº Invº 7 286
Presépio atribuído a Machado de Castro

A apresentar por Alexandre Pais, Elsa Murta e Joana Campelo

20 de Dezembro de 2014, ás 15h


O presépio que integra a colecção do Museu Nacional de Arqueologia é uma peça fundamental para estabelecer uma das vias destes móveis após o ocaso do brilhante tempo barroco, em que pontificou, entre outros, o génio criador de António Ferreira e Joaquim Machado de Castro. A erudição e lógica das imagens escultóricas que marcam presença no remanescente dos presépios setecentistas, por vezes herdeiras de sentidos ainda ligados a tradições medievais, estavam condenadas numa sociedade em convulsão e que tendia para uma crescente laicização de que a extinção das Ordens religiosas é uma das consequências mais evidentes. Desaparecida uma das clientelas essenciais do presépio, móvel litúrgico sazonalmente exposto para contemplação piedosa e celebração do Nascimento de Jesus, a sua prática permaneceu na tradição dos costumes populares e nas figuras feitas a partir de moldes, vendidas em feiras e lojas por todo o país. Algumas olarias começaram a investir neste tipo de produção, sobressaindo em Lisboa a que se localizava na Calçada da Bica Pequena, de onde provêem alguns dos elementos presentes no presépio do Museu de Arqueologia. No entanto, ao contrário do que sucedeu com grande parte das peças com origem em unidades de produção mais populares, entretanto perdidas na voragem do tempo, estas encontraram abrigo numa curiosíssima maquineta em forma de castelo muralhado (provavelmente reutilizada a partir de outra função), que dota o conjunto de uma inesperada evocação de casa de bonecas. A estética subjacente ao todo que integra esta invulgar peça remete para uma obra do último quartel do século XIX. Adaptada a um gosto mais aburguesado do que aquele que caracterizara a clientela que outrora observara os presépios do “período de ouro”, demonstrando a persistência de manifestações que ultrapassam o próprio sentido religioso que se encontra na sua génese e ganham o carácter de um símbolo, neste caso o da unidade familiar como base da estrutura social.

Museu Nacional de Arqueologia. Entrada Livre.



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