17/02/2014

A Peça do mês de Fevereiro

O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhar de objectos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por iniciativa do pr´pprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e coleccionadores.
Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História, até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.
O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como "tesouros nacionais".
Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.


PEÇA DO MÊS
Barco votivo, nº inv. E 139 (cat. 236) - Egipto antigo

A apresentar por Telo Canhão, em 22 de Fevereiro de 2014, às 15h



O hábito de enterrar os mortos na companhia de um enxoval funerário no antigo Egipto, tinha como finalidade a utilização de todo esse equipamento no Além. Os Egípcios acreditavam que era possível aos seus mortos viverem uma outra vida depois da morte, e que todos os objectos com que eram fechados nos seus túmulos desempenhariam exactamente a mesma função que tinham tido durante a sua existência terrena, para lhes facultar uma permanência de alegria e abundância na Duat, o outro mundo. Por isso se chama a este barco nilótico «barco votivo», pois foi deixado num túmulo por motivos rituais para obter o favor de forças sobrenaturais em que os Egípcios acreditavam, como a heka, a força mágica considerada criativa e pertencente ao demiurgo, que a espalhou por toda a criação. Confiando nelas, supunha-se que ganhasse vida e servisse o defunto no Sekhet-Iaru, o paraíso egípcio, na plenitude da sua funcionalidade, para que nada lhe faltasse.
Mas este pequeno barco de madeira, com 73 cm de comprimento e 37 cm de largura, e os seus oito ocupantes, simboliza uma outra realidade incontornável: o Nilo era a «auto-estrada» do Egipto e por ela todos circulavam na companhia dos mais variados carregamentos. De tal forma que isso deixou marcas indeléveis na escrita egípcia e na maneira de ser dos Egípcios, para além de determinar o óbvio: uma infinidade de diferentes embarcações! Os humanos com as sua cargas, umas vivas outras não, umas vezes em missões de paz outras nem por isso, e os deuses, todos eles se deslocavam no Egipto de barco que, no caso dos das divindades, alguns chegavam a assumir nomes próprios.
Características da construção naútica, algumas que permitem distinguir os barcos nilóticos dos barcos que navegavam nos mares Vermelho e Mediterrâneo, formas de propulsão na água, tipos e funções das embarcações, equipagens e outras características, servirão para desvendar um pouco do mundo maravilhoso que era a navegação no Egipto, e não só no Nilo, como enquadramento à peça do mês aqui proposta.
Feito este envolvimento, será então abordado o belo barco do Museu Nacional de Arqueologia, o «E 139», juntando-se às informações existentes algumas ideias novas, sendo dadas uma série de explicações sobre as características da embarcação e seu equipamento, sobre a fisionomia, o posicionamento e a função das figuras, bem como sobre a provável origem da embarcação e sobre o tipo de madeira de que é feita.


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