O Museu
Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade
centenas de milhares, de objectos. Provêm eles de intervenções arqueológicas
programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por iniciativa do próprio
Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e coleccionadores.
Todos os
períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a
mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as
peças etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas
acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito
diversificadas.
O MNA é
ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças
classificadas como “tesouros nacionais”.
Existe,
pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de
Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa,
e renovadamente no ano de 2013, em
que o MNA celebra o seu 120º aniversário de fundação.
A Peça do Mês de Outubro
Apresentação por João Almeida e Julião
Sarmento, em 19 de Outubro de 2013 às 15h
CABEÇA DE ALFINETE COM
REPRESENTAÇÃO FEMININA (Nº 2011.61.1)
TRÓIA –
GRÂNDOLA, SETÚBAL.
Entre as décadas de 40 e 60 do séc. XX
foi escavada em Tróia uma importante necrópole romana cuja cronologia de
utilização compreende grosso modo, os séculos I e VI d.C.
Durante estes trabalhos arqueológicos, sob a
direcção do antigo Director do MNA, Manuel Heleno Júnior, foi descoberta junto
de uma destas estruturas funerárias uma pequena figura feminina de osso que
conserva ainda o torso e parte dos membros inferiores. Esta pequena peça deverá
ter sido o motivo central de um alfinete de cabelo embora não seja de descartar
a hipótese de se tratar de um elemento decorativo de um instrumento de fiação,
como aliás se conhece outro exemplar de Tróia. A relação com outros materiais
perfeitamente datáveis, a presença de vestígios de cinzas no local descrito e a
sua representação indicam uma datação em torno do séc. I d.C. Os traços desta
pequena escultura, talhada com grande precisão e realismo, aproximam-na das
representações coevas de Vénus, cópias dos modelos da Afrodite grega muito
populares na época.
Outros enterramentos em Tróia sugerem uma
relação entre o género feminino sepultado e alguns objectos relacionados com
esta divindade, cujo simbolismo extravasa largamente os conceitos associados de
beleza e erotismo.
Esta peça, que se encontrava “adormecida” nas
reservas do MNA até há poucos anos, foi “acordada” pela investigação
arqueológica de João Almeida.
No ano em que se assinalam os 40 anos de
carreira de Julião Sarmento - um dos nossos artistas plásticos com maior
projecção internacional e cuja obra mergulha frequentemente no universo
feminino - propõe-se um diálogo entre a perspectiva que um arqueólogo e um
artista têm perante o mesmo objecto.
Poderemos falar em arte e beleza universal? Terá
esta magnifica figura tido há dois mil anos o mesmo impacto visual que tem nos
dias de hoje?
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