A “peça do mês” nas coleções do Museu Nacional de Arqueologia
O Museu
Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos
milhares, na verdade centenas de milhares, de objectos. Provém eles de
intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido
incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação o de
investigadores e coleccionadores. Todos os períodos cronológicos e culturais, e
também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes,
neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA.
Às colecções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos
e regiões muito diversificadas. O MNA é ainda o museu português que possui no
seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como “tesouros nacionais”.
Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas colecções do Museu Nacional de
Arqueologia e é esse o sentido
da evocação que fazemos, em cada mês que passa, e
renovadamente no ano de 2013, em
que o MNA celebra o seu 120º aniversário de fundação.
Paleolítico Inferior (Acheulense)
100 mil anos
Inv. 2001.58.1| Tesouro Nacional (Decreto nº 19/2006)
|
O Biface de Milharós (Alpiarça)
Os bifaces constituem o mais antigo instrumento de pedra lascada
bem padronizado do Paleolítico Inferior. Constituem ainda a mais emblemática, a
mais duradoura, a mais amplamente distribuída e ainda a mais enigmática
ferramenta da história humana. Existem em todo o continente africano, na Ásia
Menor, até á Índia, e na Europa Central e Ocidental. São datados desde há quase
dois milhões de anos, em África (ou desde há cerca de 500 mil anos na Europa)
até há menos de há 100 mil anos. Não se conhecem nenhuns povos ditos primitivos
que os tenham fabricado, mas sabe-se que eram usados na mão e que serviam ou
pouco para tudo, furar, cortar, raspar… Por isso o fundador do Museu Nacional de
Arqueologia, José
Leite de Vasconcelos , lhes chamou os “faz-tudo”.
Os mais antigos eram imperfeitos e de gumes muito sinuosos. Os
mais recentes eram finamente retocados e apresentavam elevados padrões de
simetria bilateral (dois lados convergindo para uma ponta) e bifacial (anverso
e reverso muito idênticos).
Em Alpiarça encontram-se as maiores e mais evoluídos colecções
de bifaces registadas no actual território português. Num local escavado por
técnicos do MNA, Milharós, foi recolhida uma colecção especialmente notável,
onde se inclui o exemplar aqui exposto, fabricado sobre uma grande lasca
extraída de núcleo em quartzito, classificado como o mais antigo “tesouro
nacional” português.
Trata-se de uma peça esguia, com comprimento cerca do triplo da
largura, de dois lados rectilíneos ou até ligeiramente côncavos na sua parte
distal, destacando melhor a ponta, com retoque fino, feito com percutor brando
(osso ou madeira), em quase toda a periferia, sendo a própria base talhada de
modo a poder ser usada, acentuando assim o carácter polivalente da peça.
Atribui-se esta peça a uma fase final do Acheulense (Paleolítico
Inferior) e calcula-se que date de há cerca de cem mil anos, numa altura em que
o nível do mar estaria mais elevado do que hoje e o estuário do rio Tejo se
estendia até Alpiarça, penetrando as águas profundamente em fundos de vales
afluentes do Tejo.
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