Inauguramos hoje um novo espaço onde apresentamos artigos científicos e ferramentas  de carácter mais didáctico sobre grandes  temáticas da arqueologia. Apresentamos o nosso primeiro convidado: o Homem de Neanderthal!
O Homem de Neanderthal sempre causou um enorme fascínio a todos os que  se interessam pela arqueologia em geral. Para além de ser objecto de um  amplo debate na comunidade científica, é também "mediatizado" através  de  documentários televisivos e até, imagine-se só, de aplicações para  telemóveis!
Nesta primeira ficha Didáctica de Arqueologia apresentamos o seguinte material:
Nesta primeira ficha Didáctica de Arqueologia apresentamos o seguinte material:
1-  Artigo  "Neanderthal-dooby-doo, where are you?" de autoria de  David  Gonçalves (a quem agradecemos) publicado inicialmente no blogue de arqueociências. 
2- Video sobre os Neandertais produzido pela BBC
3- Aplicação para telemóvel produzida pelo Smithsonian: National Museum of Natural History
PARTE 1:
"Neanderthal-dooby-doo, where are you?" de autoria de  David Gonçalves
"O  Homem de Neandertal é provavelmente, o nosso parente extinto mais   famoso. Tal como nós, foi produto de uma evolução no sentido da   encefalização, do bipedismo proficiente e da competência na produção de   ferramentas. Porém, o seu estatuto é hoje também o produto de uma   evolução ao nível da postura científica e esteve durante muito tempo   acorrentado a preconceitos que, há mais de cem anos atrás resultaram na   atribuição de uma natureza brutal, bárbara e quase simiesca a este   hominídeo. Esta representação manteve-se na imagética popular durante   muito tempo, e para alguns, estas características ainda lhe estão   conotadas. Porém, a produção científica actual permitiu-nos distanciar   dessas primeiras representações, e as últimas décadas têm assistido a   uma crescente “humanização” deste nosso mais próximo conterrâneo   evolutivo. Provavelmente, um Neandertal com um corte de cabelo   “maneirinho” e enfarpelado com as vestimentas de um qualquer   “prêt-a-porter” não suscitaria mais “virares-de-cabeça” do que os punks   malabaristas da Rua de Santa Catarina. Seja qual for a postura, os   Neandertais têm estimulado a nossa imaginação desde que a famosa calote   craniana do Vale do Neander na Alemanha foi desenterrada em 1856.
Apesar   de ter ocupado e explorado uma área extensíssima que compreende grande   parte do território europeu e algumas das regiões mais ocidentais da   Ásia, este tão bem-sucedido hominídeo acabou, como tantos outros antes   dele, por definhar e deixar menos frondosa a árvore referente à linhagem   humana. A sua sobrevivência resume-se hoje a uma pequena participação   no nosso património genético actual, cuja expressão fenotípica aparenta   ser de tal forma diminuta que apenas a sequenciação do ADN nuclear foi   capaz de a confirmar sem margem para dúvidas. A Península Ibérica tem   sido apontada como local do último reduto Neandertal, inferência feita   essencialmente a partir da cultura material que a arqueologia tem   apresentado ao Mundo. Porém, por comparação com os achados humanos   descobertos em Espanha, o nosso próprio pecúlio tem sido reduzido e algo   desapontante. Resume-se a um punhado de dentes e ossos desarticulados,   sendo que os mais recentes achados têm a Gruta da Oliveira (Torres   Novas) como proveniência. Dada a escassez de restos humanos encontrados   neste rectângulo à beira-mar plantado, é legítimo questionar a que  razão  ou razões se deve este cenário e o que podemos fazer para o  alterar.  Questionámos alguns dos especialistas nacionais acerca desta  questão e  apresentamos aqui as suas perspectivas em discurso directo.
Para   João Zilhão – Professor em Arqueologia Paleolítica na Universidade de   Bristol – a causa para este cenário é clara. Encontrei restos humanos  em  todas as jazidas que escavei, incluindo as do Paleolítico Médio. Se  há  menos em Portugal do que noutros lados a razão é simples: é que em   Portugal se escava muitíssimo menos. Não há menos restos, há menos   escavações.
Esta visão é em parte partilhada pelo  Director do  Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo. Poderá ser a  pouca  investigação (escavação) moderna, especialmente em grutas, já que  em  sítios de ar livre é mais raro encontrar fósseis humanos, aqui ou   noutros países. Porém, Raposo acredita que esse não é o único factor   explicativo. A verdade é que não foi ainda encontrada em Portugal   nenhuma gruta com uma ampla ocupação do Paleolítico Médio. Pelo   contrário, ocorre que em quase todas as grutas onde se registaram   presenças do Paleolítico Médio estas são muito discretas, quase   vestigiais, mesmo quando nos níveis superiores existem densas ocupações   do Paleolítico Superior. A única excepção poderá ser a Gruta Nova da   Columbeira, que possui uma ocupação intensa do Paleolítico Médio e uma   ausência de vestígios do Paleolítico Superior, devida talvez à   circunstância de a cavidade ser já infrequentável pelo homem nessa fase.   Foi aqui que se recolheu o mais antigo resto neandertalense descoberto   em Portugal, mas apenas um fragmento de dente, quando a fauna é   abundante. Terão os métodos de escavação usados deixado passar outros   vestígios? Não sei.
Luís Raposo tende a considerar que  este  padrão de menor ocupação das grutas durante o Paleolítico Médio  nesta  Finisterra portuguesa é real e já o procurou explicar através de  padrões  de ocupação do território [cf., por exemplo, RAPOSO, L. (1995) -   “Ambientes, territorios y subsistencia en el Paleolítico Medio de   Portugal”, Complutum, nº. 6, Madrid, pp. 57-77].
Também  as  condições climáticas gerais poderiam ir no mesmo sentido. A ideia  do  homem de Neandertal como um “bruto troglodita” é totalmente errónea.  Nem  eram assim desprovidos de capacidades intelectuais, nem tinham  gosto  especial por habitar em cavernas. Ora, numa região em que o clima  nunca  tivesse atingido os rigores glaciários da Europa mais  setentrional, é  fácil pensar que os bandos de Neandertais ocupariam  preferencialmente os  vales dos rios e os maciços periféricos a baixa  altitude, vivendo  principalmente em acampamentos de ar livre e sendo  por isso mais  “invisíveis” hoje no registo arqueológico. Admito também  que, ainda por  cima, fossem menos, quer dizer que houvesse uma menor  densidade  populacional, mas quanto a isso apenas podemos por agora ter   “impressões”.
Nuno Bicho, professor na Universidade do  Algarve  afirma que a questão é interessante e muito relevante no  estudo da  Pré-história portuguesa e, infelizmente, aplica-se também a  outros  momentos da Pré-história Antiga, como é o caso do Paleolítico  Inferior.  Na sua perspectiva, parece haver um conjunto alargado de  factores  limitadores do número e qualidade de sítios arqueológicos do  Paleolítico  Médio em Portugal. Provavelmente, há quatro factores  principais: o  reduzido número de investigadores em Paleolítico e  especificamente em  Paleolítico Médio; o deficiente treino e ensino em  Paleolítico e em  análise de indústria líticas; a falta de trabalho de  prospecção dedicada  ao Paleolítico; e o contexto da geologia e da  geomorfologia.
De  facto, no âmbito académico há apenas, neste  momento três docentes  universitários (nas Universidades do Minho,  Lisboa e Algarve) que se  especializaram e que fazem investigação  continuada nesse período. O  resultado prático é que o número de alunos  que se interessam por  Paleolítico é reduzido nos cursos de licenciatura  de Arqueologia e,  naturalmente, por razões demográficas, diminui  sensivelmente conforme se  avança no grau académico. Apesar de tudo,  temos um conjunto de  recém-doutorados e de doutorandos apreciável em  Paleolítico, atendendo  ao número total de alunos de Arqueologia. Mas  também é verdade que o  número de alunos que trabalha em Paleolítico  Médio é reduzido – tomando a  Universidade do Algarve como exemplo  (talvez como referência?), existem  neste momento 12 doutorandos, dos  quais 8 trabalham em Paleolítico  (ainda que nem todos tenham esse  período como foco da sua tese) e desses  8 não há nenhum a trabalhar em  Paleolítico Médio. Do conjunto de  investigadores da Universidade do  Algarve, eu incluído, há cerca de uma  dúzia de pessoas a trabalhar em  Paleolítico, e apenas duas trabalham  directamente, ainda que não  exclusivamente, com Paleolítico Médio. 
Para  Nuno  Bicho, o ensino de matérias relacionadas com o Paleolítico, bem  como de  especialidades fundamentais no seu estudo como é a  geoarqueologia, a  arqueometria e a zooarqueologia, é claramente  deficiente na maior parte  das universidade portuguesas, principalmente  no caso das  licenciaturas. Unidades curriculares (para aqueles que estão  afastados  dos estudos superiores há algum tempo, este termo significa   “disciplinas”) dedicadas a análise de materiais líticos são raríssimas   em Portugal e, claro, se um aluno não souber reconhecer artefactos   líticos talhados, muito dificilmente irá encontrar sítios arqueológicos   da Pré-história antiga.
O terceiro factor é o do  tópico da  investigação – raramente em Portugal aparecem projectos de  investigação  dedicados inteiramente à prospecção arqueológica e, claro,  menos ainda  dedicados ao Paleolítico. O resultado é que os poucos  sítios  Paleolíticos que se encontram hoje são revelados acidentalmente  ou  através de estudos de impacto. Como um grande número de arqueólogos  não  tem a preparação suficiente para reconhecer artefactos líticos   paleolíticos, estes sítios não são encontrados.
Contudo,  parece  que apesar de todos estes factores condicionantes, deveria  haver mais  sítios arqueológicos. A verdade é que nos últimos 20 anos, o  número de  sítios arqueológicos do Paleolítico Superior verdadeiramente  importante  cresceu exponencialmente (Cabeço do Porto Marinho, Lagar  Velho, Vale  Boi, Picareiro, Coelhos, Anecrial), o que não aconteceu  relativamente ao  Paleolítico Médio – de facto, com a excepção dos  trabalhos de João  Zilhão no Complexo Arqueológico do Almonda,  especialmente na Gruta da  Oliveira e, mais recentemente, o de Jonathan  Haws em Mira Nascente  (ainda que com outra dimensão), não houve outros  sítios novos de  Paleolítico Médio verdadeiramente relevantes. Esta  falta de sítios do  Paleolítico Médio deve-se muito provavelmente às  condições geológicas  das jazidas com esta cronologia. É possível que se  encontrem soterradas  por baixo de coluviões mais recentes ou em  terraços fluviais e marinhos  de grande potência que dificultam a sua  detecção. É também claro que em  alguns pontos do país, nomeadamente o  Algarve, se deu, provavelmente  durante o Holocénico antigo, a erosão  completa de terraços e outros  depósitos do Pleistocénico Superior. E  assim, perderam-se inúmeros  sítios arqueológicos datados do Paleolítico  Médio. 
Em relação  aos factores geológicos, seria  talvez interessante fazer um levantamento  completo e sistemático das  condições de jazida de todos os sítios  arqueológicos do Paleolítico  Médio de forma a, e com base nesse estudo,  desenvolver padrões  preditivos de localização de jazidas Moustierenses.  Este trabalho foi  feito para o Paleolítico em geral para o vale do Sado  por uma equipa  canadiana, com base nos dados de um projecto meu de  prospecção  paleolítica para o Algarve. Naturalmente, foram encontrados  um conjunto  razoável de sítios arqueológicos, nomeadamente alguns do  Paleolítico  Médio e que, espera-se, sejam aceites para publicação em  breve.
Aqui  ficaram os relatos de três especialistas nacionais, a  quem muito  agradecemos a sua colaboração. Do seu discurso resulta a  ideia que  ainda muito há a fazer para colmatar algumas das lacunas que o  nosso  registo arqueológico apresenta em relação a achados humanos.  Porém,  também fica a ideia que esse registo irá ser gradualmente  enriquecido  por novas descobertas à medida que o investimento em  investigação,  recursos materiais e recursos humanos for aumentando. Aqui  estaremos  para dar conta desses novos achados."
PARTE 2:
Vídeo produzido pela BBC
PARTE 3:
Meanderthal aplicação apps para telemóveis
O Smithsonian: National Museum of Natural History quis trazer o homem de Neanderthal até nós de uma forma original: através de uma aplicação apps para telemóveis de última geração. Esta aplicação chama-se "Meanderthal" e consiste basicamente em a partir de uma fotografia tornar um pessoa num homem de Neanderthal, mas não só.....
Para os interessados e portadores de um telemóvel de última geração  quem tenham um "iphone" ou  um telemóvel com sistema "android" podem descarregar gratuitamente aqui a aplicação.  Divirtam-se!









 
 



 
 







 
  






 
 
 
